quarta-feira, 28 de março de 2012

Clube da Esquina em Cordel

O CLUBE DA ESQUINA
EM CORDEL

Autor: Olegário Alfredo (Mestre Gaio)
Membro da ABLC – Academia Brasileira de Literatura de Cordel e
ALTO – Academia de Letras de Teófilo Otoni-MG

Com o pensamento enlevado
Meu gênio poético atina
Para que possa escrever
O belo que a vida ensina
A trajetória vivida
E harmonia dividida
Pelo Clube da Esquina.

A nova década pela terra
De sessenta transcorria (1960)
No Brasil a ditadura
Desalento nos trazia
Só mesmo a juventude
Em sua inquietude
Nos despertava alegria.

Alguns músicos em Beagá
Sem nenhuma pretensão
Começaram a se encontrar
No início por diversão
Entre as ruas Divinópolis
Junto com Paraisópolis
Em busca de uma canção.

Um clube que não existiu
Mas todo mundo o conhece
Graças a mãe dos irmãos Borges
Este clube resplandece
No encontro de duas ruas
Onde brilham muitas luas
No bairro que não anoitece.

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Canções que marcaram épocas
Com letras maravilhosas
Seus arranjos penetrantes
Pelas noites calorosas
Ecoavam pelos montes
Escorriam pelas fontes
Na Capital das Alterosas.

Jovens músicos com talentos
E distinta formação
Transitaram pela veia
De uma forte geração
Revolucionaram à cultura
Driblaram à Ditadura
Encantaram a Nação.

Foi um grupo que dobrou
A esquina de Beagá
E pelo mundo de meu Deus
Transpuseram, oxalá
Cantando pelo prazer
Viram o sonho acontecer
Por aqui como acolá.

Cada bairro ter seu grupo
Era prática natural
Os encontros do dia-a-dia
Um bendito ritual
Falar de música e poesia
Não fadava nostalgia
No curso da capital.

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O que ficou para história
Tudo brotou duma esquina
Entre conversas políticas
E paquera de menina
Um grupo consolidado
E pelo mundo projetado
Como o Clube da Esquina.

Sobre o Clube da Esquina
Digo com sinceridade
Foi um clube imaginário
Dentro da mineiridade
Que surgiu sem pretensão
Por isso houve projeção
Pelo ciclo da amizade.

Sabemos que toda época
Traz seu tipo de linguagem
A poesia sempre vive
Em uma constante viagem
Transitando sem parar
Ocupando todo lugar
Não precisa de bagagem.

Neste Clube da Esquina
A poesia é cantada
Caminhando impressentida
E nunca inesperada
No tempo da escuridão
À cata do novo irmão
Rompendo o pó da estrada.

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Quantos sócios deste Clube
Pelo mundo deve haver
Impossível de contar
Só quem sonha pode ver
Não existe noite escura
Que arrebata uma ternura
Sem que haja amanhecer.

Um Clube magnificante
E de forma singular
Onde os sócios dividiam
Solidão com o sonhar
Já a forma de expressão
Transmutada em canção
Sobressaía no cantar

Foi com Milton Nascimento
O ponta-pé inicial
Gravar um álbum duplo
Na época não era normal
Os empresários da Odeon
Apostando naquele tom
Pôs fé no potencial.

Para compor o projeto
Lô Borges foi convidado
Ainda bastante novo
Mas com talento aprumado
Disse Lô Borges: - Só vou
Milton tão logo aprovou
-Com Beto Guedes ao meu lado.

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Assim foi que aconteceu
Como um tiro bem certeiro
Lô Borges e Beto Guedes
Lá no Rio de Janeiro
Morando com o Bituca
Todos com serena cuca
Agarrados no parceiro.

Mudaram pra Niterói
Lugar de tranqüilidade
Acharam paz para compor
Trabalho de qualidade
Visitas lá não faltavam
E os amigos só chegavam
Ampliando a irmandade.

Ronaldo Bastos presente
Como fiel escudeiro
Fernando Brant em Minas
Grande bardo mensageiro
Os cavalheiros no Rio
Formavam com muito brio
Um arquipélago mineiro.

Se diz do Márcio Borges
Mentor intelectual
Já o Milton Nascimento
Visioneiro mundial
União familiar
E que para prosperar
Se tornou fundamental.

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Márcio Borges bom letrista
E de Milton o predileto
Desde os tempos do *Levy
Amigo dos mais seleto
Entre músicas e canções
Madrugadas e emoções
Irmão de fé e de afeto.

E com tanto reboliço
E também apreensão
Esses jovens se encontraram
Acertaram a solução
Lançar o Clube da Esquina
Carregado de adrenalina
E espalhar pela Nação.

Lançado em setenta e dois (1972)
O disco Clube da Esquina
Trazia como conteúdo
Qualidade e disciplina
Belas letras, nível alto
Flor que rompe o asfalto
Moçada que desatina.

O disco Clube da Esquina
Maravilha matinal
Considerado por todos
De vanguarda sem igual
Disco reverenciado
E de talento apurado
Pela música nacional.

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A força do som de Minas
É de forma criativa
Canções puras que brotaram
Dentro da locomotiva
*Vera Cruz, ai que saudade
De um tempo sem idade
Tanta carga emotiva.

Um Clube que se formou
De maneira salutar
Melodias transcendentes
Mineirice secular
Viajando sobre o trilho
Matutando um estribilho
De Minas até o mar.

Temos no Clube da Esquina
Grande universalidade
Um clube de todo mundo
Entre os laços da amizade
Um pomar de muitos frutos
Rechaçado de tributos
Paz, amor e liberdade.

Gerações mais gerações
Quiçá pela vida inteira
Vão cantar pelas esquinas
Das cidades brasileiras
A toda herança herdada
Daquela rapaziada
Da doce terra mineira.


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Músicas como o “Trem azul”
Um hino para o mineiro
Seguida de “San Vicente”
Verdadeiro cancioneiro
“Paisagem na Janela”
Junto com “Cravo e Canela”
“Trem de Doido” cantareiro.

Citando a bela canção
“Tudo que podia ser”
Seguida de “Cais e “Estrelas”
Só a “Lília” para ver
“Dos Cruces” “Um gosto de sol”
“Os povos” do arrebol
Também “Ao que vai nascer.”

“Um girassol da cor
do seu cabelo”” é capaz.
“Pelo amor de Deus” é bom
“Nuvem cigana” é demais
Nada será como antes”
Se não somos confiantes
Em nossa Minas Gerais.

Vem “Saídas e Bandeiras”
Número um e número dois
De novo “Clube da Esquina”
“Me deixa em paz” vem depois
Músicas que extrapolaram
E tão longe lá chegaram
De aviões ou carro-de-bois.

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Todos do Clube da Esquina
Louvo com sinceridade
Beto Guedes e Lô Borges
Venturini de verdade
Logo vem Toninho Horta
Nos arranjos entrecorta
Batida de qualidade.

O poeta Márcio Borges
De grande conhecimento
Fernando Brant em parceria
Com o Milton Nascimento
Ronaldo Bastos carioca
Com Tavinho também toca
Dando o enriquecimento.


Tantos outros componentes
Neste imenso carretel
Wagner Tiso por exemplo
Coloriu este painel
Nesta minha louvação
Na canção do coração
Continuo no cordel.

Na sombra do grande Clube
Projetava o Clubinho
Os mais novos na escola
Depois som no cavaquinho
Melodias nascituras
Em pequenas criaturas
Iluminavam o caminho.

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Peladas e bola de gude
E os Beatles na vitrola
Nico, Telo com Yé
Ouvidos finos na viola
De quebrada a Solange
Voz feminina que tange
Os jovens da corriola.

E circulavam na esquina
Amauri com João Luiz
Sônia e Tiú-Rastejante
Vem Zé Grandão, ora que diz:
- Felicidade na vida
Pra Landinha tão querida
Que só pensa em ser feliz.

Surge o Beto-Ronca-Ferro
E o Alan com o Reinaldo
Joãozinho Tiú-das-Trevas
Dá-lhe música com respaldo
A Vânia por sua vez
Repleta de sensatez
No Clube engrossa o caldo.

E assim com o viver
Vai-se o tempo pela estrada
A saudade silencia
Em uma música bem tocada
O crescer é tão normal
Nesta vida desigual
Para tão breve jornada.

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Fim

Grande Mestre Gaio: capoeirista,
Cordelista. Artista múltipl de talento
Raro, alma sensível e generosa.
Com satisfação leio e releio seu novo
Cordel homenageando o Clube que vi
Nascer nas ruas de Santa Teresa. Belo
Trabalho. Parabéns, o Clube agradece.

Yé Borges


Olegário, Semp re assim, de sensibi-
lidade alva. Basta observar sua maneira
de ver o mundo, lendo seus livros e
cordéis que vamos de encontro ao mais
puro de sua alma. Sempre Gaio.

Gina Borges
Autora de Literatura Infantil e
Empreendedora Cultural.



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